São
José dos Campos situa-se em uma área onde predomina o bioma Mata Atlântica, mas
também onde ocorrem “manchas” de vegetação do bioma Cerrado. A região onde dois
biomas se encontram se chama ecótono ou área de transição e possui uma rica
biodiversidade. De fato, em nosso município ocorre uma fauna exuberante, com
ênfase para as várias espécies de primatas nativos da Mata Atlântica: o
sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), o macaco-prego (Sapajus
nigritus), o guigó (Callicebus nigrifrons), o bugio (Alouatta
guariba) e o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides). Vamos conhecer um
pouco sobre a intrigante vida social dos macacos nativos de nossa região?
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Macaco-prego | Crédito de imagem: Alexandre Pedron |
O
primeiro é o pequeno sagui-da-serra-escuro ou sagui-caveirinha (adultos com no máximo
450 g). Esta espécie encontra-se sob ameaça de extinção. Está presente em quase
todo nosso município, incluíndo áreas urbanas. Organizam-se geralmente em
grupos de quatro a 8 indivíduos, podendo chegar a 11 animais, que incluem
machos e fêmeas adultos, jovens e filhotes. São territorialistas! O período de
gestação dura 5 meses e ocorre duas vezes ao ano e os dois filhotes gêmeos
permanecerão não apenas sob os cuidados da mãe, mas também dos pais e outros
indivíduos adultos do grupo. Estes pequenos macacos podem ser monogâmicos ou
podem apresentar um macho com duas fêmeas, havendo, em cada grupo, apenas uma fêmea adulta reprodutiva dominante.
Entre 2024-2027, o trabalho de mapeamento e estudo deste primata conta com
recursos do projeto Ecomuseu dos Campos de São José: reflorestando a trilha do Callithrix
aurita”, realizado pelo Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) em
parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Para a
realização deste trabalho, atuam as seguintes instituições parceiras:
Prefeitura de São José dos Campos, Centro de Conservação do Sagui-da-Serra e
Universidade de Viçosa, Universidade do Vale do Paraíba e Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Guicó | Crédito de imagem: Vitor Herdy
Os “astutos” macacos-prego apresentam médio porte (adultos entre 2 e 4 kg) e ocorrem em áreas florestais na região de Jambeiro e São Francisco Xavier. Apresentam um sistema não monogâmico chamado pelos pesquisadores de multimacho-multifêmea, com grupos que variam geralmente de 11 a 30 indivíduos de diferentes idades, onde existe uma hierarquia marcante, com machos dominantes denominados de alfa e beta. A maioria dos filhotes do grupo é geralmente do macho alfa, mas outros machos adultos também podem copular com fêmeas reprodutivas. A gestação dura por volta de 5 meses e nasce apenas um filhote. Apresentam repertório de diferentes comportamentos para defesa de seus grupos.
Os belíssimos guigós possuem porte mediano (entre 1 e 2 kg) e ocorrem, predominantemente, no distrito de São Francisco Xavier. Formam grupos de até 6 indivíduos. São monogâmicos. O período de gestação varia de 4 a 5 meses, com nascimento de apenas um filhote. Apresentam fortes interações sociais entre os membros dos grupos.
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Bugio | Crédito de imagem: Márcio Alves |
Os bugios com seu “ronco” característico podem ser ouvidos a longas distâncias e também estão nas listas de fauna ameaçada de extinção. As fêmeas adultas podem chegar a 5 kg e os machos a 8 kg. Há registros dessa espécie em São Francisco Xavier. Apresentam grupos que variam geralmente de 4 a 11 indivíduos de diferentes idades e apenas um macho dominante. São territorialistas. O período de reprodução dura cerca de 6 meses.
Os tranquilos muriquis-do-sul são os maiores macacos das Américas (adultos chegam entre 12 e 15 kg) e também estão ameaçados de extinção. Em nossa região, ocorrem no distrito de São Francisco Xavier. Os grupos podem ser formados por vários machos e fêmeas adultos, jovens e filhotes. O número de indivíduos pode variar dependendo da disponibilidade de floresta em bom estado de preservação. Não há competição entre machos reprodutivos por fêmeas. Há forte interação harmônica entre os membros dos grupos, incluindo machos adultos.
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Muriqui-do-sul | Crédito de imagem: Paulo Rodrigues Dias |
Como
podem perceber, estimados leitores, os primatas apresentam diferentes tipos de
organização social e modos de vida. Esses diferentes modos de organização foram
“moldados” ao longo de milhares de anos pela evolução e têm diferentes
implicações na história de vida e ecologia das espécies, permitindo que elas
muitas vezes co-existam em uma mesma localidade, utilizando diferentes tipos de
florestas, estratos da floresta (partes mais baixas até mais altas) e
diferentes recursos alimentares. Consenso é que todas as espécies desempenham
papéis ecológicos importantes para regeneração florestal através de seus
diferentes modos de vida e organização social, necessitando de projetos e ações
para a sua conservação.
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