Aproveitando a vinda do professor Mario Chagas à São José dos Campos para conversar com o pessoal do Campos de São José, realizamos também um encontro com pessoas interessadas em debater à respeito de museologia social. O encontro aconteceu no dia 10 de dezembro, às 9 horas, no Museu Municipal de São José dos Campos.
Mantendo o mesmo tom de conversa da noite anterior, Mario pediu para que as pessoas começassem fazendo algumas perguntas, e sua fala se pautaria, então, em tais perguntas. De maneira geral. os assuntos apontados foram: a) qual a relação entre processo museológico e sociedade?; b) qual a possibilidade de relacionamento da museologia social e o espaço institucional público?; c) como o Ecomuseu Campos de São José se relaciona com um contexto mais amplo na museologia social?
A partir destas perguntas, Mario apresentou as diferenças entre museologia e museologia social. A princípio, apresentou a história dos museus. Como eles surgiram, porque surgiram e qual era o objetivo destes espaços que guardavam objetos importantes para determinados grupos sociais.
Casas das Musas, as filhas de Mnemosine e Zeus, os museus personificam memória e poder. Há algo que deve ser lembrado amanhã, há algo que se deve guardar, proteger, reservar. Onde há memória, há um jogo de poder. A memória é um campo de luta, de disputa. Onde algo se lembra, algo se esquece. Seleção. Os museus, nesse jogo de poder e produção de memória, ocupam o futuro. Eis uma função e tanto! Lugares de memória, lugares de poder, lugares de produção de esquecimento. E ainda, lugares de resistência.
E então, por volta da década de 1970, os movimentos sociais começaram a fazer alguns questionamentos em relação à função dos museus. Tratava-se de grupos que não se sentiam representados nas coleções museológicas, que se perguntavam sobre os esquecimentos produzidos por estas coleções. Foi neste momento que começaram a surgir experiências de construção de outras possibilidades de museus. Em Portugal, França, México, Brasil (Museu Magüta e Noph - Ecomuseu de Santa Cruz) e outros lugares do mundo estas experiências tiveram lugar.
Para esta nova museologia, a produção de coleções deixa de ser fundamental. Marca também a crise da museologia em 3ª pessoa, são museus onde o narrador é o protagonista, o detentor da memória. Onde o foco está nas relações entre os seres humanos, os seres humanos e os bens naturais, os seres humanos e os bens culturais. São museus comprometidos com transformação social, com a vida; onde o acervo é um conjunto de problemas vivenciados coletivamente. Onde a convivência e o afeto prevalecem, onde uma comunidade protagoniza a construção de sua memória. São exemplos destes museus comunitários, além dos já citados, o Museu da Maré e o MUF (Museu de Favela).
A conversa foi boa, aprendemos muito, trocamos muito. As possibilidades neste campo da museologia comunitária são amplas e revigorantes. O encontro marcou um momento de semeadura neste vasto campo do patrimônio cultural. Agora é hora de molhar a terra e esperar a semente germinar. Estamos confiantes nisto!
Obrigados, professor Mario, por aceitar nosso convite e se dispor a vir até aqui conversar conosco! Agradecemos também à Fundação Cultural Cassiano Ricardo e ao Museu do Folclore pelo apoio para a realização deste encontro em São José dos Campos.
Fotos de Caroline Farnesi Borriello.